Os sinais do Caminho

Volto à poesia por caminhos tristes,
por onde reconheço os teus sinais …
Há um sinal da poesia que ficou pelo caminho
onde acumulo e entulho um morto amor …
e a dar-me alento mais na flor do que no chão,
semeio em mim a sina de um cão farejador
na flor que te insinua na pedra e na inscrição.
Volto à poesia por caminhos tristes,
por onde reconheço os teus sinais …
Há um sinal da poesia que deixei pelo caminho
onde obedeço e teço a corda do meu justo nó …
e piso e bato a asa louca do meu passo vão,
assim deságuo etéreo ao meu ninho e pó
a despejar o luto em puro sangue e coração.
Volto à poesia por caminhos tristes,
por onde reconheço os teus sinais …
Há um sinal da poesia que morreu pelo caminho
onde luzem lidas cruzes de inimigas divindades …
e sigo as pragas nas lavradas prosas que me vão,
e tornem-me, assim, infinito abismo de saudades
na pena destas letras a velar minha mão.
II – O PROSTÍBULO
O engenheiro projetou a obra,
o construtor edificou-a,
o pintor deu-lhe cores,
o eletricista acendeu a luz,
e todas as moscas,
e todas as moças adentraram!
Sobraram os meus entulhos,
e todas as minhas latas vazias,
e todos os meus papéis,
e todos os meus versos,
e todos os meus restos de tinta.
E todos os meus insetos,
e todos os meus pássaros,
e todas as minhas catapultas,
e todas as minhas arapucas!
Mas ali morou uma aranha
e outra aranha
e outra aranha …
e outra aranha!
Ali na teia,
ali na cama,
ainda nua,
(tão linda, tão linda!)
a minha aranha,
a minha lua,
a minha puta
deslavada …
o meu amor,
a minha luta,
a minha asa aprisionada.