Tédio

I
Minha alma entedio-se
nas filigranas do presente eu
olhando através de mim
me mirei tempestade

II
A dor por doer roí
entretém as horas idas
satisfaz a alma
brinca de ciranda nas asas da morte
cria catástrofes apocalípticas
porém e só, porém
alimenta-se daquilo que dentro de nós
denominou-se de poesia.

III
Minha amada
têm olhos de ouro
e mãos que lembram pombas
quando por acaso se mexem
na sutileza do salgueiro
quando a lua cheia em êxtase cai
na manhã gris de outono.

IV
Acho que ontem ao despir minha alma
vi um bando de pássaros migrando
para outros horizontes
menos finitos.

V
Não se deve assassinar os sonhos
a menos que tenhamos ainda metáforas
guardadas na luz do candeeiro.

VI
Ontem um anjo descuidado caiu
das filigranas do meu sonho
e eu lhe pedi para que me abençoasse
este negou alegando que tal ato já fora feito
antes por Jacó e até o presente momento
não tinha resultado em nenhuma paz…

VII
P/ Samuel Beckett
– Você vai embora?
– Acho que vou.
– Para onde?
– Não sei ainda qual o determinado lugar.
– É estranho! Quando partimos sabemos qual o determinado lugar.
– Antes de partir uma pergunta.
– Qual a pergunta?
– Se você sabe qual é a resposta.