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Esqueço os sonhos. Não falo.
Emudeço, passivo, num mundo
onde a vida é contada em imagens
recortadas de telejornais
em notícias sensacionais
e coladas com gotas de sangue
no meu álbum de recordações e incertezas.
Mas, à noite, o Tempo parece parar,
e, nas ruas, ao som das canções de ninar,
as crianças esquecem o mundo,
esquecem as sombras ocultas no escuro
e, soberanas na noite, põem-se a sonhar.
É então que ouço o vento cantar.
Num sussurro infantil, ouço sua voz ecoar
(refletindo suas notas nas gotas que a chuva deixa cair)
E a canção embala a minha noite,
e me traz à memória as manhãs que não tive.
Quando criança, ousava sonhar
com campos floridos; e ousava, mesmo, dançar
a canção que o vento cantava pra mim.
E a vida era uma história contada
a mim pela voz suave das fadas:
uma história em quadrinhos encantada
colorida com as flores de todos os jardins!
Mas o vento passou, e passaram as lembranças…
E deixei de ser aquela criança
ao vagar, certa noite, por uma rua deserta.
Foi quando vi minha vida passar, amassada,
levada pelo vento, em letras borradas,
numa página rasgada de jornal…