Pavana

Vejo em ti o meu reflexo
Nos teus olhos meu espelho
E, quando te falo
Refletem em ti
Minhas palavras
Como se comigo travasse
Silencioso duelo
E, no entanto, audível.
Quando te alvejo
E, portanto, te irritas
Vejo em tua ira
A minha.
Meu ódio mudo
Explodindo
Como se o ofendido
Fosse eu
E sou.
Escondidamente eu te uso
Inconscientes desta dança
Tu e eu
Prosseguimos
Evoluimos passo a passo.
Tu me cravas teus espinhos
E, eu, os meus
E esta dor que tu sentes
É a minha
Sou eu
Dor-muda, dor-presa
Agora liberta no teu grito
No teu berro contra mim
Dor que eu sinto e desabafo
Contra mim.
Não te quero mal
E, talvez, nem te queira bem.
Não te quero.
E, no entanto, quero ter-te
Pois tendo-te
Tenho a mim em reflexo
E posso, então, tocar-me
Ferindo-te e ferindo-me
Posso sentir-me
Um pouco mais vivo
Um pouco mais livre
Enfim.