Raça Viva

Raça minha, mãe eterna,
O céu é o mesmo daqui, mas
Os atabaques mãe, trazem notícias de ti.
África, Egito, terra brava,
Da mãe mais terna que vi,
Saciou fome de estranhos,
Teve filhos de ninguém,
Mas correm ao sol, mãe, querem tua cor,
Não sabem que carregam teu gen…
Surgiram pedras e muitas, mas tu
Persistes em ser humilde, terna e gentil,
Nos teus campos os animais são livres
E as matas, muitas, virgens,
Acorrentam o caçador, ainda caçam
Mãezinha, meu corpo traz sinais de fugas
Entre ervas e gente daninhas.
Raça minha, mãe sem cor,
De tanto lavar mágoas e saciar ira
Daqueles que não crêem no amor.
Eles chegam, muitos, mas tu mãe
És maior, tira as contas do campo,
Faz mandingas, chora e benze ladainhas
Eles se abaixam, temem confessar,
Que tu és grande rainha…
Usaram teu ventre, tuas modinhas,
teus cozidos, esquentaram-se em teu amor,
Usaram tudo, tua escultura e ocultam
teu real valor, mãe quero ser como tu,
Que rezas pelas almas penadas
Que te usam, abusam, mas no fundo te amam…
Raça minha, mãe eterna
Que te expões ao sol até pretejar,
Que te abaixas ao reio até cortar,
Que ora e benze até curar,
Que joga e dança até tombar…
Raça minha, mãe serena
De meu berço, sinto a força
De teus braços me acariciando,
Porque tu, flor dos campos,
Destes teus pedaços aos feitores
Da cultura e hoje mãezinha,
Nas argolas de ouro,
Ouço a voz do meu povo,
É um hino homogêneo,
Do leão que ainda ruge:
Que a terra é forte o solo é quente,
A mente é fértil e a boca ávida,
A vontade é grande e o recurso é pouco,
Mãe, me dá a paz de teu povo
Tira-me as algemas,
Traga as asas de teus pássaros,
Abra estradas, eu quero caminhar.
E estes pés calejados,
Sem cor e com razão,
Leva teu rastro mãe,
Deixa no pó a canção:
Da mãe eterna dos campos
Da África, Egito e tantos,
Que soltou os filhos no mundo,
Mas não cortou o cordão!