Redação 3

Se você for prestar o exame vestibular da Fuvest 2000, guarde esse endereço aí em cima… e dê uma xeretada nele. Lá existem 50 redações que tiraram nota dez no vestibular 99. Vale a pena dar uma olhada, são modelos muito bons pra quem quer fazer o melhor em redação. Modelos? Não… você pode, é claro, observar o que a Fuvest valoriza: conteúdo crítico, bom “recheio” para discutir o tema proposto com qualidade e competência.

De dentro para fora

De nada adiantará você saber regras decoradas de ortografia, acentuação,pontuação, concordância, se não tiver aquilo que podemos chamar de “recheio”, ou seja: sua redação só será realmente boa se se dispuser a cuidar de seu intelecto: ler, observar o mundo, discutir fatos, verificar sempre os dois lados das questões, ser crítico. Recuse-se a ter apenas um “verniz”, capa de pseudo conhecimento sobre os fatos do mundo, declamar lugares-comuns. Invista em você. Leia de tudo um pouco porque escrever é decorrência do ato de pensar (eu já disse aqui antes). Então, leia: jornais, revistas, histórias em quadrinhos, poemas, romances, out- doors, até bula de remédio ajuda. Dessa forma, estará construindo um universo interior mais rico e buscando construir um discurso próprio, particular, marca de sua individualidade. É isso que vale a pena quando um corretor colocar os olhos sobre a sua redação.

Exercício, quer?

Esta é a prova do Ita 99.
Divirta-se.
Querendo, faça o exercício e mande pra que eu corrija.

Instruções para Redação

Redija uma dissertação (em prosa, de aproximadamente 25 linhas) sobre “A relação do brasileiro com o trabalho”. Os excertos abaixo poderão servir de subsídio para a elaboração de sua redação. Não os copie. ( Dê um título ao seu texto. A redação final deve ser feita com letra legível, à tinta.)

1. Aos 9 anos comecei a tentar trabalhar. Ajudava um vizinho que fazia doce de banana e de mamão para vender na feira. Na hora de lavar aqueles tachos enormes de cobre, os filhos e os netos dele achavam feio fazer trabalho de mulher – arear a panela, com areia mesmo, porque Bombril vim conhecer só aqui no Rio. Eu ganhava aquele dinheirinho para a merenda. Também quebrei pedra – é, pedra mesmo. Lá no sertão não tinha máquina para fazer concreto, era tudo na mão. Os homens gritavam fogo na hora de estourar a pedreira e todo o mundo da vila se escondia debaixo das camas. Quando acabava o estouro, a gente corria com cesto ou lata para pegar os pedaços de pedra, trazia para o quintal, quebrava tudo com a mão e esperava o medidor que vinha pesar as latas. ( Veja, Especial Mulher, – set/ 1994)

2. Nos ofícios urbanos reinavam o mesmo amor ao ganho fácil e a infixidez que tanto caracterizam, no Brasil, os trabalhos rurais. Espelhava bem essas condições o fato, notado por alguém, em fins da era colonial, de que nas tendas de comerciantes se distribuíam as coisas mais disparatadas deste mundo, e era tão fácil comprarem-se ferraduras a um boticário como vomitórios a um ferreiro. Poucos indivíduos sabiam dedicar-se a vida inteira a um só mister sem se deixarem atrair por outro negócio aparentemente lucrativo. E ainda mais raros seriam os casos em que um mesmo ofício perdurava na mesma família por mais de uma geração, como acontecia normalmente en terras onde a estratificação social alcançara maior grau de estabilidade. (Holada, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil, Rio de Janeiro: José Olympio, 1978)

3. Muito diferente da concepção anglo-saxã que equaciona trabalho (work) com agir e fazer, de acordo com sua concepção original. Entre nós, porém, perdura a tradição católica romana e não a tradição reformadora de Calvino, que transformou o trabalho como castigo numa ação destinada à salvação. Para nós, brasileiros, que não nos formamos nessa tradição calvinista, achamos que o trabalho é um horror. (Da Matta, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de janeiro, Rocco, 1984)

4. Os executivos estão desfrutando cada vez menos o período de férias. É o que aponta uma pesquisa feita pelo grupo Catho, especializado em Recursos Humanos, com 1.356 profissionais em todo o país. Os resultados revelam que o descanso tradicional de 30 dias já virou utopia para muitos: 57,5% dos entrevistados tiraram férias de apenas duas semanas ou menos nos últimos 12 meses. Outros 21% não tiraram um dia sequer. Gerentes, supervisores e profissionais especializados _ como advogados, contadores e engenheiros _ são os que menos dão pausa no trabalho durante o ano. (Folha de São Paulo, 17/5/98)