Poetas do Acaso

Poetas do Acaso
Uma mesa de bar
em nenhum lugar
nenhuma estrela
nenhum luar
Poetas do acaso
perdendo a razão
nenhum argumento
nenhuma ilusão
Copos quebrados
mulheres sorrindo
um casal conversa
e ninguém se importa
Ele desfaz a promessa
e bebe um gole de vinho
à sua confiança
à sua traição
Alguém comemora
algo sem importância
ela abre a bolsa
e puxa uma arma
Ela dispara e as risadas acabam
alguém perde o controle e começa a chorar
Poetas do acaso
imortalizam a cena
em guardanapos
de papel.

Agora o Silêncio é Quem Fala Por Você
Água limpa na sarjeta
de um julho úmido e frio
onde a chuva não cessa
enferrujando a lembrança
umedecendo as paredes de madeira
gotas descem do céu
até as telhas de barro
lento e ocioso eu desperto
no calar do entardecer
agora que o silêncio
é quem fala por você.

O Clube do Amor e da Rotina
O tempo vence a insistência
e eis que nos rendemos e voltamos
de alma quebrada e bolso vazios
o mundo foge de eixo
girando torto
enquanto as luzes se apagam
anunciando a aurora
ficamos abraçados aguardando uma resposta
que não tarda a vir, pensamos,
que é justo esperar o triunfo
do cansaço sobre o corpo
sim, minha incontrolável malfeitora
os séculos negarão toda razão
a estupidez ficará gravada em lápides
com o nome das pessoas que nos odeiam
que pilhamos, traímos e abandonamos
e ninguém virá de arma em punho até nossa porta
porque as pessoas não são fortes
como eu e você…

O Ritual do Sol
… Meio dia,
o pelotão de fuzilamento
chega ao pátio ensolarado
jovens cansados
em seus uniformes mais comuns
um vento forte e seco
o silêncio dos fuzis
o suor queima como areia quente.
estou tranqüilo agora
que tudo está prestes a acabar.
Você passeava
distraída e tão sozinha
como sempre quis
quando ainda não sabia
como era ser amada
e em cada fim de tarde
ficava imaginando
o quanto ainda teria que esperar
e se era mesmo jovem
ou se era apenas um sonho.
Armas engatilhadas
o sol nunca brilhou tão forte.

O Último Beijo
Com um beijo que me fez gelar
você se despediu e caminhou
para longe e sempre
contra o vento cortante
que viria a seguir
e o temor de estar sozinho
até o fim dos meus dias
prendeu meus braços tão forte
quanto o medo que eu tinha
de estar pra sempre com você
essa despedida interminável
não é mais desejo
isso não é mais amor
é um ressentimento quase perdido
por ter ficado para trás
e sobrevivido
nos beijamos
eu me despeço em silêncio
e começo a caminhar até a estação
para nunca mais.

Celebre o Ocaso
Durma minha inconstante…
eu juro…
dessa vez não haverá pesadelos
nem monstros embaixo da cama
o medo virou certeza
e já não é mais nada
o consolo nunca chegará…
mas durma, minha inconstante…
porque estamos longe…
tua cama não abrigará
ressentimento algum
nem mesmo lembrará
que houve um ocaso
e quando os telhados e as ruas
estiverem novamente cheios de neve
meu nome não será mais do que triste lembrança
tua pele não saberá mais da minha
como a minha estremece
ao lembrar da tua
desde sempre…
e até onde formos…