Alain e a Matemática

Ou Tomates, Bananas, Laranjas e Botões
1- Tomates
A aula foi bastante puxada naquele dia. As crianças finalmente tiveram a sua primeira aula de Matemática. A turma esperava esse dia com muito medo. Os alunos mais adiantados viviam dizendo isso e aquilo da professora e da matéria.
No colégio todos sabiam da fama dos dois, unidos pela vida a fora, diziam que, nem a professora nem a Matemática perdoavam, era errar e…
– Matemática é uma ciência exata, disse Dona Nair no começo da aula. E exatamente por isso, não permite erros, ou seja: uma operação, soma, subtração, multiplicação ou divisão, dará sempre o mesmo resultado, não importando que você a faça em terra, no ar ou no mar, ou mesmo por toda a sua vida!!!
-Vamos começar a aula, disse a Professora. Você aí, Ricardo, não? Muito bem, Ricardo, levante-se. Você tem 5 Tomates…
Belo começo de aula, Alain não entendeu nada! A turminha se reuniu depois da aula, no recreio.
-Fácil demais, dizia um, escondendo o jogo.
-Ééééé, vamos ter que estudar muito, dizia outro.
-Não entendi nada e pronto, repetia Alain…
Alegre, gentil, grande e forte, Alain não fez ninguém caçoar de seu comentário. Era bom respeitar aquele amigo brincalhão, mas danado de bom na briga.
Os meninos se reuniram e aqueles que entenderam a lição resolveram ensinar para o colega o que tinham aprendido naquele dia, seria uma forma de ajudá-los também a relembrar e fixar a novidade.
-Vamos lá Alain, chamou o mais velho da sala
-Vamos todos tentar te ensinar.
Muito sérios, eles se sentaram em baixo da caramboleira, bem no fundo do pátio. A ajuda começou:
-Alain, finge que você tem 5 Tomates, tiramos 3 e …
Muito invocado com aquela história de aula pra ele, Alain se levantou, reclamou e foi saindo. -Pode ficar com os tomates, pode logo ir ficando com os cinco, eu não gosto, não como e nunca iria ter logo cinco de uma vez, eu hein…
Tomates!
2 – Bananas
Depois da aula, chegando em casa, Alain foi para seu quarto esperar a hora do almoço. Aquela história de Tomates estava deixando ele muito danado: Que coisa, esse pessoal ficar me dando Tomates; logo pra mim, que não consigo nem sentir o cheiro (ué, e tomate tem cheiro?).
Armando seu time de botões, Alain deu a partida, sem se lembrar mais nem dos Tomates, nem da Professora. O jogo foi duro. É ao mesmo tempo chato e difícil jogar sozinho. E ele ia ganhando dele mesmo com facilidade. O Flamengo sempre vence, dizia com orgulho.
-Fim de jogo, anunciou a Mãe. Sem prorrogação nem disputa de pênaltis, já pra mesa! A pequena família estava toda sentada para a comida. A Mãe dando de comer para a irmã pequena começou a falar:
-Então o senhor hoje teve a sua primeira aula de Matemática! Parabéns, estamos ficando crescidinhos. Vamos lá fazer uma conta…
Chateado mas com medo de uma bronca, Alain topou : Tudo bem, mas sem Tomates…
-Sem Tomates, repetiu a Mãe sem prestar a atenção.
-Digamos que você tenha 6 Bananas.
-Oba, 6 bananas…
-Certo, você tem 6 Bananas, eu dou 2 para a sua irmã…
-Não, pra ela não, as Bananas são minhas, eu dou pra quem eu quiser, e eu quero comer, cadê? me dá logo Mãe, respondeu o gordinho nervoso.
-Calma, não grite, preste a atenção menino! Você tem 6 Bananas…
-Ô Mãe, que isso? Não vou dar minhas Bananas pra ninguém e pronto. Na Escola já vieram com Tomates, agora Bananas, não dou e pronto! Alain saiu chorando e acabou o assunto.
3 – Laranjas
Maria, a Empregada, ria enquanto lavava a louça. A senhora me permite uma opinião? Não percebeu a história dos Tomates, e depois das Bananas, Tomate ele não gosta e Banana ele gosta demais. A senhora tem que usar outra coisa, alguma coisa que ele não ligue, nem goste, nem desgoste. Que tal Laranjas? Falou, pegando um saco com uma porção de frutas amarelinhas. -A idéia até que é boa, disse a Mãe. Vou chamar o Alain.
-Meu filho, sai daí do seu quarto, vem cá, vamos fazer uma brincadeira diferente, vem…
Aos poucos e devagarinho a porta do quarto se abriu. O menino saiu e meio sem graça se sentou na cadeirinha alta da irmã. A Mãe, cheia de dedos voltou a tocar no assunto:
-Filhinho, preste muita atenção, agora vamos fazer uma conta com objetos reais, falou e deu ao garoto 5 Laranjas.
-Você agora tem 5 Laranjas…
-Brigado Mãe, respondeu o guloso.
-Eu agora vou tirar 3!
-Nãããão! Que brincadeira boba! Primeiro você me dá, depois toma! As Laranjas são minhas, minhas! eu não quero que você tire nenhuma!!!
-Mas querido, é apenas uma brincadeira!
-Não, não gosto de brincadeiras com comida. Você mesma disse que comida é coisa séria. E de mais a mais, uma Mãe tomar as Laranjas do filho é uma coisa muito feia. Com licença, eu tô com fome, vou pro meu quarto comer as Laranjas…
É, a coisa estava difícil…
4 – Botões
O Tio Salim apareceu de tardinha. Não vinha como Médico que era, vinha como amigo da família, saber como andavam as coisas. Encontrou uma situação muito engraçada. A Mãe sentada no chão da cozinha, cercada de frutas, legumes e verduras. A Empregada ao lado, ria mais do que cozinhava. Um pedaço de papel todo rabiscado tinha anotações completamente malucas. -Mas o que é isso? De que se trata? Perguntou o velhinho
-Contas, Matemática! Falou a Mãe, explicando o acontecido.
Tio Salim ouviu a história com um sorriso no canto da boca. Maria ria sem parar, enquanto as Laranjas e Bananas eram contadas. Quando acabou a história, Tio Salim falou com sua calma habitual.
-Vocês estão fazendo tudo errado. Vocês têm que usar para ilustrar a conta, alguma coisa com a qual o Alain esteja habituado a mexer, usando a Matemática sem saber que está usando!!! Curiosa a Mãe puxou uma cadeira. Se sentou para ouvir, sem perceber a bagunça que a menina pequena fazia com as frutas.
-Explico melhor: Sabe o time de botão? Pois é, com botões ele sabe lidar. Já viram o Alain jogar com o time incompleto? Pois é, digo de novo. Com os botões ele usa a matemática e nunca soube que usava.
-Grande idéia, disse Maria.
-Vamos agir, disse a Mãe.
Juntos, eles bateram na porta do quarto do menino. Por um desses maravilhosos acasos, ele estava justamente armando seu time de botão. As cascas espalhadas indicavam que as Laranjas já tinham desaparecido. O jogo estava para começar. O ruído da torcida já se fazia ouvir.
-Meeeeengo! É o maior, é o maior! Meeeeengo! Gritava Alain, imitando o coro.
-Calma treinador! Antes do jogo começar, o técnico deverá conversar com o médico do time! disse o Tio Salim, entrando na brincadeira.
-Pronto, qual é o pó? Falou Alain.
-É o seguinte : Sente-se e vamos ter uma conversinha. Com calma e com atenção.
-Quantos jogadores tem seu time? Perguntou.
-Dez na linha e um no gol, como todos os times… Respondeu desconfiado o menino. Onze!
-Onze é muito! A conta vai ficar difícil, pensou baixinho. Mas vamos lá! Vamos falar só dos jogadores. Dez!
-Muito bem! Dez! Agora, digamos que o médico, que sou eu, diga para você, que é o Técnico, que metade dos jogadores, ou seja cinco atletas, não têm condição de jogo, estão machucados, não podem jogar. Agora diga, com quantos jogadores você vai ficar. Como vai ser o jogo? Perguntou ansioso o Médico, vendo o menino pegar alguns botões e ficar mexendo com eles na mão, com se estivesse fazendo uma conta.
-Com quantos você vai ficar? Repetia a Mãe.
-Como vai ser o jogo? Perguntou Maria entrando com uma jarra de suco cercada de biscoitos. -O Flamengo!, com cinco jogadores machucados? Analisava o menino.
-Isso! muito bem, pense! Cinco jogadores machucados de um total de dez! falava empolgadíssima a Mãe.
-Logo o Flamengo! Cinco jogadores! Falava Alain balançando a cabeça.
-Dez, dez jogadores e cinco machucados! Repetia, sem parar, o Tio Salim. Como vai ser o jogo? Levantando do chão, o menino largou os botões, agarrou um copo de suco, com a outra mão pegou quase todos os biscoitos e imitando uma voz ao microfone, anunciou :
-O Maracanã informa: Por causa de muitos jogadores machucados, hoje não vai haver jogo do Flamengo! Todos para o lanche!