Dois Poemas: A Família, O Campo

A Família

tem alguém no telhado
talvez a avó louca
embriagada de tiquira

tem alguém no telhado
possível o neto
esperando a lua

tem alguém no telhado
provável o gato
com medo dessa família

O Campo

nuvens de mosquitos
ovelhas de orelhas cortadas

o vento estende o pasto ao sol

silêncio ervas daninhas
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Fome

Fome
se eu te boto assim um tempero
uma pimenta, um pouco de sal
te pego e como inteiro
e ainda lambo os lábios
os dedos
lambuzados com teus pêlos
pode me chamar de canibal

O Dia do Incompreendido

O dia dos incompreendidos,
a mim como porta estandarte,
o vizinho do lado com seu carro,
o vizinho de cima com sua mulher a gritar
e filha a espernear.
A família,
de quem nunca me dei conta
percebo que existiu
e não sei porque.
Outro não sei
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“Cordeiros da Noite” e “Impasse”

Cordeiros da noite
Duas aves tristes
navegam
entregam
choram
e acordam sozinhas.

Impasse
Acordo no meio
enxergo estreito
navalha nos olhos
a gralha e seus ovos
choro na linha
grito distante
corpo definha
corpo cortante
termina mudo
rua ociosa
termina tudo
na tarde chuvosa.

poETAmente…

¡Oh, día del odio éste! ¡Oh, burda tarde…
¡Oh, madres, que nifean la tecata
de Dios en las esquinas! ¿Quién, tú, dime, ha colgado,
presurosamente hermosa, la sombra de Orfeo
en una cárcel? ¿Quién prepusianamente roto
ha violado los niños el Día de Gracia Leia mais

Inferno

Nos barrocais profundos do meu ser
Vicejam sonhos, ambrosias, versos;
Bagas tristonhas, pesares diversos…,
Luzes e sombras, querendo viver…
Das saturnais, que da pletora vibram,
Meu coração se perde na torrente…,
Desiludido, só, indiferente…
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O Bailarino Que Eu Queria…

Queria um bailarino que me tocasse,
Que dançasse na saudade,
Que me olhasse,
Que me quisesse sem maldade.
Queria um bailarino pra mim,
Que fosse mais do que tudo , um amigo,
Que me aceitasse assim,
Que caminhasse comigo.
Queria um bailarino que entre Leia mais

Sede e Seda

Há sede de sedas,
de verbos, de versos.
Bastam-nos os sons
das unhas nas sedas,
de arrulhos nos versos,
de bêbados verbos
que entornam-me o cálice,
derramam metáforas,
embebem-me o poema.
As musas que me dessedentem.

A Mãe Solitária

Com andar trôpego e lábios cerrados,
nenhum sorriso, nem mesmo no olhar,
apoiando num bordão de jacarandá,
lá ia a mãe solitária.
Seu olhar era triste e fixo no chão frio.
Resmungando ela buscava algo bem distante,
como se realmente fosse encontrá-los.
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Feijões de Molho

Em cima na pia, na cozinha,
numa bacia,
feijões de molho.
Não sei o que eles querem dizer.
Lembro que um dia pensei:
não quero nada comum.
Não quero na minha vida
esse cheiro de dia-a-dia.
Hoje tem feijão de molho na minha pia.
Debaixo d’água.
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