Numa tarde escura, uma sombra passa
A chorar tristezas do final de século:
Uma sombra boêmia que perdeu sua graça
Ao passar na vida, mas passar tão perto.
Não lembrava, a sombra, o motivo certo
A razão exata do seu triste pranto:
Se chorava tanto por não
Balada das mãos
As mãos são reflexos do instante
iluminando gestos mágicos
na transitória encenação
títeres de um palco de acasos.
As mãos são sentinelas rápidas
desenvoltas estrelas de afagos
do murro em sua fúria intérpretes
atentas aos raios e ataques
As mãos inventam ventos dóceis
desenhando
Etérea
Minha mãe não é santa
e nem se chama Maria
Mas ontem
quando a luz tropeçava na janela
e a tarde caía
eu a vi na sala.
Ela lia.
Eu juro
eu vi uma auréola.
O Prazer Revisitado
Há prazeres em demasia
na desordem do dia.
Pode-se comer chocolate, beber, fumar,
cantar blues, dançar samba e foxtrote
depois chutar lata numa rua vazia,
às cinco, naquele lusco-fusco
em que não se sabe noite mais,
ouvindo o primeiro apito
das fábricas
Carvoeiros Do Amazonas
A devastação desenfreada da floresta para a fabricação de carvão vegetal utiliza-se da mão-de-obra infantil, quase escrava, e leva à miséria absoluta, famílias inteiras no interior da floresta amazônica. É um drama surdo que perde em popularidade para os retirantes do Nordeste, mas não
Vento dos Quatro Cantos
Vento dos quatro cantos.
O vento vindo do norte é quente.
Traz a alegria sem fim da gente lá do norte.
Ao lado vem o do nordeste.
É quente apimentado.
Ele é muito mais rebolado.
O vento que vem do sul. . .
Agora é bem gelado.
Agora caí neve por
Dogma
Cuidado
com as trilhas esquisitas
com as bíblias pré-escritas
preconceitos julgamentos e heranças
do teu DNA
Com estradas sujas maltratadas
e malditas
por onde ainda teimas muitas vezes
em andar
por que existe uma paz somente
Tua
e
Qualquer dia
Qualquer dia!
Pela vida afora, numa pressa louca,
A mesma promessa:
Qualquer dia!
Qualquer dia desses a gente se encontra;
Qualquer dia desses,
Sem hora marcada,
Sem dia marcado
A gente vai se encontrar!
A mesma promessa
Num sem tempo infinito;
Qualquer dia!
Qualquer dia desses…
Quando?
Haverá
Do Outro Lado da Ponte
Vou fechar esse livro.
Enterrar esse tesouro.
Vou naufragar o meu navio.
E navegar no vazio dos meu sonhos.
Vou abandonar as minhas armas .
E nessa batalha , eu vou …
Com a alma exposta .
Ao sol ou à solidão.
Vou atravessar a ponte.
E ir
Paz e outros poemas
Paz
na praça estendido
um tapete para a paz
pombinhas brancas
Instantâneos de Um Amor – Dois Momentos
( I )
dois corpos largados
cruzados
na cama
braços e pernas
abertos
desenham
a rosa dos ventos
no centro tórrido
nossos pólos
opostos
perdemos o rumo
(II)
na cama
lado a lado