aureola-nos em bênçãos
os ímpetos surgendos do coração
a medida que na inoção
os sentimentos vanguardam verdades
entranhadas no corpo chão
sem tabus
sem vaidades
onde a beleza do ser sente
na alma consente
o fluir do amor inébrio.
No Escurinho do Cinema…
Cinema só uma vez existiu em Tabuí. Durou nem um mês. Funcionava no Bar Ganha do Cidão. Na hora do filme botavam bancos compridos no salão improvisado, uma tela na parede do fundo e o bar virava cinema. Nas noites de sábado só entrava mulher e os homens ficavam pra domingo.
O filme, único,
Decifra-me
Decifra-me,
antes, acende a tocha da paixão,
marcando as asas em mim.
Olha as cigarras, existe o canto,
música suave e estrelar harmonia…
Coração que se arrebenta,
o canto não se abisma, modula,
nele a freqüência, a sintonia…
Decifra-me,
Oceano, estou mar!
Uma vela içada
Coração pra Balanço
Mas olha só, veja que dó
Como é que pode
alguém viver
assim a só
o coração cheio de pó
e abandonado
põe logo uma plaquinha escrita: “Ó
se alguém quiser aproveitar um coração na promoção meio usado por um real ou um vintém o coração
Nadir Continua Urdindo….
(….) “Sempre há algo que escapa, escamoteado nos interstícios que proliferam interminavelmente. (…) O arquivo não será jamais a memória… a impaciência absoluta de um desejo de memória… memórias da morte… o último capítulo da vida dos homens infames.”
Um Dia Também Serei…
Eu era a quadragésima segunda dos quarenta e seis netos. Naquela época, minha avó tinha cabelos bem compridos, tão finos e branquinhos. Ainda posso vê-la se olhando no espelho. Primeiro passava o indispensável pó-de-arroz, depois o perfume meio adocicado que eu nem gostava muito.
Eu sentava
Nada É Para Sempre
Finda-se o ano, outra vez. E já se foram tantos que acabamos por findar o século e até o milênio. Aí sou acometida por aquele sentimento de final de festa, final de viagem, final de namoro, final de casamento… os finais são sempre tristes. E para quem acreditou a vida inteira em final
Visões do Inferno
Manhã de sábado. Cedo demais para que qualquer mortal, em sã inconsciência, cogite a possibilidade de abrir os olhos ou sair da cama confortável que o acolheu a noite inteira. Cama que é quase uma extensão de si, conhece o formato do seu corpo, as curvas, saliências e reentrâncias. Que absorve
Sobre os teus Olhos
Ó, Pensamento, por que de mim foges?
Como é difícil atá-lo a mim…
Se te quero por perto, te perdes nas profundezas deste lindo, misterioso olhar que me toca e me confunde.
E voa, voa… A fim de encontrares uma resposta. Talvez no infinito, talvez logo ao meu lado,
Missão Atávica
A velha loba
definha-se a cada passo.
trôpega
soberba.
Lentamente
abandona-se no chão
aconchegando-se
nas próprias feridas.
Um uivo
longo
dolorido
libertador
rompe
a alma selvagem
e arrepia suavemente
a savana.
Ao longe
a matilha
passa
inexorável.