Cantiga Para Ninar o Frio

Tremia
envolvida em braços magros.
Com medo das coisas do céu
que parecia desabar trepidando
no ruído do elevado às preces ruídas
sem fé no desgoverno veloz dos carros
que rasgam a noite com olhos de neblina.

Eu,
quieto e ansioso pelo dia,
não parecia, tremia mais que você!…

Esquentei
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Procissão dos Poetas Mortos

Ontem, pela minha rua, desceu uma procissão,
A procissão dos poetas.
Todos sós, mortos e tristes.
Na coreografia de um sorriso maldito, olharam-me
Condenaram-me.
Excomungaram-me.
Não me querem entre eles.
Negam-me.
Preferem a poesia do meu reflexo Leia mais

A Estrada

Quando criança, eu tinha um certo medo de estradas. Não da estrada em si, mas de não saber para onde ela ia. Observava a estrada, o seu paralelismo se espremendo lá longe, sumindo devagar, esvaecendo-se numa quase nuvem; ou então, o seu desaparecimento abrupto, numa súbita curva, como num susto.
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A Escolha Que Eu Sofria…

Se eu estivesse procurando silêncio e privacidade não estaria sentado aqui nesse banco, em pleno centro da cidade, como faço sempre. Acontece que tenho uma estranha necessidade de movimento e
alegria em minha volta para poder pensar. É estranho, mas é possível que possa acontecer com vocês Leia mais

Esse Doce Encanto

Há tempos o escrever não povoa
Minhas belas madrugadas
A mão mágica e plena da poesia
Não tem beijado minha face
Talvez porque o embriagado som da alma
Tenha emudecido para deixar as notas
Da vida ecoar
Mas os olhos fixos e profundos
Da pessoa admirada
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Poemas de Ângela A Mirandola Nassin (Lynn)

Amo-me
Amo meus cabelos
cheirosos e macios
rédeas de teu cavalgar
Amo meus lábios
doces e úmidos
pouso do teu prazer
Amo-me inteira
íntegra e verdadeira
repouso do meu guerreiro.

Desenho
desenhaste
com lábios
meu rosto e
corpo
descobriste
meus vales
montes Leia mais

Balanço

O casulo azul não acolhe asas,
revela o sono
solto no espaço,
ave liberta,
longe do solo
em vôo livre,
ausente do corpo.
Ronrona a rede,
murmura sons,
sussurra leve,
ao vento morno,
segredos novos.
Sob os acordes
atleta Leia mais

Oportunidade

Hoje vi que o que vejo
não vai além do corpo que me veste
e que me mostra o espelho.
Minha persona se deita
em terra e cinzas.
Gorjeia uma palavra de passado:
a memória é disco
e eu sou a agulha.
Meu pranto de noite
lava a terra do dia,
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Receita, Ou Homenagem

Não sei se isto é um conto, uma crônica ou uma receita de culinária. Só sei que é uma homenagem, que ontem enterramos o velho Cirilo, um português do Minho, pai da Beatriz Caminhão. Ao que sei tinha ele morrido de velho, assim como quem apenas desiste, sem mais aquela…
Ajudei no Leia mais

Mirada

Ao me olhar vejo o mundo
e ao ver o mundo me contemplo
mas eu e o mundo não existimos.
Porque quando olho o mundo
o mundo visto por mim
não passa de uma forma
de eu próprio me ver no mundo.
E assim eu também não sou outra coisa
senão a tentativa do mundo
em ver a si mesmo
realizado em mim.